quarta-feira, 11 de março de 2015

DÊEM UMA CHANCE À PAZ

O popular adágio: "Se queres a paz, prepara-te para a guerra" (Si vis pacem, para bellum) é de Flávio Vegécio, um personagem nebuloso do Império Romano que viveu no século IV dC. Ele escreveu um Tratado da Arte Militar (Epitoma rei militaris) do qual foi pinçado a famosa frase. Nunca gostei desse provérbio  por sua inspiração belicista, mas nunca parei para pensar nele.
    Agora há pouco descubro que Marcel Proust escreveu sobre isso. Num dos volumes de sua monumental obra prima Em Busca do Tempo Perdido, no volume A Prisioneira encontramos a seguinte análise do pensamento de Vegécio: O preparar-se para a guerra, que o mais falso dos adágios recomenda a quem diz desejar a paz, cria, ao contrário, nos adversários, primeiro a crença de que o outro quer o rompimento, crença esta que termina por provocar a ruptura; e depois outra crença em todos de que quem começou a guerra foi o outro.
   Convidado por Proust a analisar o conteúdo da exortação bélica vegeciana, chama a atenção o maquiavelismo do pensador militar, ele explora o medo, e aposta na desconfiança que as pessoas devem ter em relação às outras. Uma filosofia incompatível com a solidariedade, o amor ao próximo, o autruísmo, a ajuda mútua.
    O escritor e professor de ioga, José Hermógenes, pacifista de carteirinha, fez um trocadilho com a famosa frase belicista: "Se queres a paz, prepara-te para ela". Em latim daria "Se vis pacem, para pacem". Kennedy, não sei se tinha Vegécio em vista quando disse: "Apenas as armas não são suficientes para assegurar a paz. A paz deve ser assegurada pelos homens". Concluindo: Paz não é a simples ausência de guerra, paz é um projeto a ser realizado, é um objetivo a ser alcançado, um estado de convivência almejado e desejado. Há que haver uma opção preferencial pela paz, assim como a Igreja fez uma opção pelos pobres. Temos que pensar como Samuel Butler (1612-1680) "Uma paz injusta deve ser preferi
da a uma guerra justa".
   Concluindo com um pensamento meio enigmático: "A amizade sólida e a paz eterna entre todos os povos seriam sonhos? Não, sonhos são o ódio e a guerra, sonhos de que um dia os homens despertarão". Ludwig Börne (1786-1837).

domingo, 11 de janeiro de 2015

FALE AO MOTORISTA SOMENTE O INDISPENSÁVEL

Pois é seu motorista, como o mundo tem mudado não é? Antigamente o passageiro entrava pela porta traseira e descia pela porta dianteira. Com a roleta do trocador lá no final do veículo,
alguns pobres coitados, com a anuência do trocador passavam por baixo da roleta. Isso ocorria pelas costas dos passageiros. Agora com a entrada pela porta dianteira e a roleta à vista dos passageiros, nunca mais vi um miserável passar por baixo da roleta. Até porque a roleta possui um ferro que só deixa um palmo de espaço livre perto do chão. Por pouco a máfia não colocou um ferro pontiagudo para lanhar quem tentasse passar por baixo da roleta. Além disso tem filmadoras. Um colega seu me disse que o mafioso quando vê nos filmes que o motorista deu carona a algum necessitado, desconta do salário e ainda diz com sarcasmo que é uma "contribuição social". Isso tudo fez com que uma parcela da população passasse a percorrer longos percursos a pé. Esse sistema BRT fez com que um ponto de ônibus fique aqui e o próximo lá em caixa prego.
A proximidade do trocador com o motorista permite que quando são amigos sigam viagem batendo papo ao longo do trajeto, deixando a velha placa: "Fale ao motorista somente o indispensável" em má situação. 
O fato de os passageiros descerem pela porta traseira fez aumentar o número de quedas de pessoas, especialmente os idosos. Não é comum um idoso ter que fazer um pequeno escândalo na ora de descer para evitar que o motorista puxe o carro e ele caia no asfalto. Outra mudança é fazer com que o motorista seja ao mesmo tempo o trabalhador que conduz o veículo e o que recebe o dinheiro da passagem. O motorista como trocador. É compreensível que a máfia queira demitir os cobradores e queiram ficar apenas com os motoristas, causando desemprego. Mas é contraproducente e arriscado que motoristas tenham que passar troco, além de causar engarrafamento. Outro fator de engarrafamento é a proximidade da roleta da porta de entrada cercada como um curral onde não há cadeiras nem para idosos. Ônibus dotados de motorista/trocador deviam receber por passageiros apenas os usuários de cartões magnéticos. Motorista recebendo dinheiro e dando troco com o ônibus em movimento é um absurdo e um risco de vida. Por falar em idoso, a máfia carioca impõe que a maioridade começa aos 65 anos quando o Estatuto do Idoso fala em 60 anos. Em cidades como Recife e São Paulo a gratuidade vale a partir dos sessenta. Parece que uma lei já foi aprovada para corrigir essa anomalia, mas está engavetada aguardando a sanção do governador ou prefeito.
Outra mudança é o uso de micro-ônibus em linhas que deveriam ser servidas por ônibus. Resultado: pequenos ônibus cheios como latas de sardinhas. Outra mudança que revela o poder da máfia é a proibição de vans. Os passageiros são obrigados a esperar, às vezes, meia hora ou 40 minutos por um ônibus porque as vans foram proibidas pela máfia. Só mesmo a promiscuidade entre a máfia empresarial e os políticos explica isso. Que capitalismo é esse em que donos de empresas de ônibus conseguem a proibição de vans, quando os ônibus não dão conta do recado?
A população aceitou a proibição das vans por conta dos casos de estupro ocorridos no interior de vans. A máfia foi beneficiada por um sinistro.
O preço das passagens de ônibus no Rio de Janeiro já havia sido aumento de R$2,75 para R$ 3,00. O movimento reivindicando a anulação do aumento foi desencadeado, mas o cadáver do cinegrafista Santiago Andrade pôs um freio no movimento e o aumento prevaleceu. Nessa mesma época uma passagem de ônibus em Recife custava R$ 2,15. E os ônibus de Recife ostentam os certificados 9001 e 14001 (ecológico).
Agora mesmo acaba de nascer um movimento para forçar a anulação do roubo de 40 centavos sobre um preço de passagem já abusivo. O movimento tende a ganhar força até anular o aumento. A não ser que algum estranho sinistro mais uma vez venha em socorro da máfia.
No Rio de Janeiro o maior mafioso é dono de uns 5000 ônibus. Não tendo para onde se expandir no estado por causa de seus colegas, trata de expandir seus negócios em outros estados. O maior dono de ônibus de São Paulo comprou uma empresa de aviação. Ou seja donos de empresas de ônibus estão acumulando fortunas em detrimento do direito de ir e vir da população. Nos dias de hoje o "direito de ir e vir" não se restringe ao direito de andar à pé. Qualquer cidadão para se locomover de casa para o trabalho, o lazer, a igreja, a escola, etc., depende de um transporte. De modo que o transporte público é o fator que assegura o direito de ir e vir do cidadão civilizado e deveria ser grátis ou custar uns ridículos centavos.